27 novembro 2008

Canhoto da Paraíba - O Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso (1977) + Fantasia Nordestina Vol. 2 (1990)

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Este disco foi um presente do grande amigo Marcos Maia / This record was a gift from my great friend Marcos Maia

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Canhoto da ParaíbaSe a escola de violões é a melhor do mundo, Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba, é um dos mais surpreendentes expoentes. Seus choros têm um sotaque nordestino delicioso. Seu estilo de tocar é único. Como era obrigado a compartilhar o instrumento com os irmãos, não podia inverter as cordas, o que o fez tocar em um instrumento afinado para destros. O pai não conseguia ensinar-lhe: "Ih, meu filho, tem jeito não. Pra lhe ensinar tem que botá de cabeça pra baixo ou diante de um espelho". Teve que aprender tudo sozinho.

Em 1959, uma legendária excursão de músicos nordestinos viajou dias de jipe com destino à casa de Jacob do Bandolim no bairro de Jacarepaguá no Rio de Janeiro, onde aconteciam os maiores saraus da época. Reza a lenda, que no primeiro sarau em que se apresentaram para a nata dos músicos brasileiros, Radamés Ganttali ficou tão impressinado que gritou um palavrão e jogou seu copo de cerveja no teto. Para recordar o momento, Jacob nunca limpou a mancha no teto. Considerando o temperamento explosivo de Radamés e o virtuosimo de Canhoto, a história até é factível, pena que parece que é falsa. Histórias saborosas assim todo mundo deveria acreditar. O fato é que esta reunião foi tão impactante, que um moleque que a assistiu, filho de um dos músicos participantes, resolveu por causa disso aprender música. Hoje ele é conhecido como Paulinho da Viola.

Estabelecido em Recife, desde 1958, somente dez anos depois, Canhoto da Paraíba conseguiu gravar seu segundo disco, Único Amor pela finada gravadora Rozenblit. Este disco é que está sendo agora relançado em CD, com apoio de João Florentino, dono da rede de lojas Aky Discos e do selo Polysom. Entre tantos ótimos violonistas na cidade na época, Canhoto surpreendeu na escolha de quem iria acompanhá-lo. Escolheu o jovem Henrique Annes, de 22 anos e formação clássica. Francisco Soares sabia das coisas. Henrique veio a se tornar um dos maiores violonistas brasileiros, e fez parte de alguns dos mais interessantes projetos instrumentais, como a Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco (que tem um maravilhoso disco relançado em CD) e lidera o grupo Oficina de Cordas. Se achou esta dupla pouco, é que ainda não sabe quem foi o produtor musical do disco. Nada menos do que o maestro Nelson Ferreira, o maior maestro/orquestrador de frevos que já existiu.

Canhoto veio a gravar apenas mais dois discos de carreira, ambos antológicos. Em 77, Paulinho da Viola produziu para a Discos Marcus Pereira o "Com mais de Mil". Esse disco já foi lançado em CD, mas os babacas da EMI trataram de tirar de catálogo quando compraram o acervo da Copacabana. Pela finada Caju Music gravou em 1993, seu último disco, "Pisando em Brasa", com as participações especiais de Rafael Rabello e Paulinho da Viola. Ainda pode-se encontrar este disco em CD pela Kuarup. Recentemente saiu em CD sua entrevista para o programa Ensaio da TV Cultura. Em 1998, Canhoto sofre uma isquemia cerebral e fica com o lado esquerdo do corpo paralizado, impossibilitando-o de tocar.

Se você não tá levando fé no que estou escrevendo -- Ora, como um violonista que quase ninguém ouviu falar pode ser tão bom? -- vou transcrever aqui a opinião de duas pessoas que entendem muito mais de música do que eu. Uma é o Paulinho da Viola, que não só produziu seu primeiro disco, como rodou o país com Canhoto pelo Projeto Pixinguinha.

Paulinho dizia que era comum Chico Soares roubar o show, sendo muito mais aplaudido do que ele. Paulinho também gravou em seu primeiro disco de 1971 o belíssimo choro "Abraçando Chico Soares", que fez no estilo de composição do amigo. Veja o que Paulinho diz sobre ele:

"Eu não queria participar daquelas rodas (de choro) como músico. Quando vi o Canhoto tocar fiquei tão entusiasmado que me toquei. Era tão sublime, tão tecnicamente perfeito. Acho que o Canhoto me influenciou a tocar, mais do que meu pai e Jacob (do Bandolim)."
Paulinho da Viola

Quer mais? Então veja este trecho de entrevista de um dos mais perfeccionistas músicos brasileiros, Jacob do Bandolim. Ele está mostrando uma gravação e falando de 1959, quando recebeu a excursão de músicos nordestinos em sua casa. Veja que ele se refere a Canhoto por seu apelido de "Sacristão", que ganhou quando criança como assistente do padre de sua cidade. Fala aí, Jacob:

"... O problema aqui nesta gravação do Chico Soares reside apenas em que vocês pra executarem estas músicas gravadas, vocês vão virar canhotos de uma hora para outra. E só assim, porque o homem tem o diabo no corpo. ... Nós vivíamos a correr de um lado para outro, a tocar para uns, para outros, e todos queriam conhecer o Sacristão, que aliás era o vedete do grupo. E observe bem que você não vai encontrar qualquer erro da parte dele. Quero afirmar a você, sob palavra, que durante os 15 dias que esse homem permaneceu aqui, em nossa casa em Jacarepaguá, este homem repetiu estas músicas várias vezes, dezenas e dezenas de vezes, em vários lugares, nas condições mais absurdas, sentado confortavelmente ou não, num ambiente agradável ou não ... , nas condições mais absurdas. De manhã cedo, às 6h da manhã, ele às vezes me acordava tocando violão. Adormecia tocando violão. Dentro de uma simplicidade tremenda sem errar nem uma nota! Eu nunca vi Sacristão errar uma nota! ... o homem tocava mesmo, não era brincadeira. Os outros tinham suas falhas, suas emoções, suas emotividades, mas o Chico Soares, não. Tocava rindo na minha cara, com um sorriso muito ingênuo de quem não estava fazendo nada de mais. Um artista enterrado lá em Recife ... é digno de toda nossa admiração, de todo nosso respeito, porque ele encarna nesta figura, uma porção de brasileiros que vivem enterrados por estes rincões afora, verdadeiros valores completamente no ostracismo ..."
Jacob do Bandolim

E viva Canhoto da Paraíba!

Paulo Eduardo Neves - extraído do site Agenda do Samba & Choro

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Canhoto da ParaíbaComing from a family of musicians, Canhoto da Paraíba learned to play the violão (acoustic guitar) when he was very young. As he is left-handed (canhoto) and there was only one instrument to be shared by he and his brothers, he learned to play in an inverted position, stunning observers with his prodigious soloing technique in such an unfavorable setup. Throughout his career, he not only participated in hundreds of recordings and radio performances, accompanying the stars of song, but he also was a recognized master on his own, both as an instrumentalist and composer. His most successful choros, "Com Mais de Mil" and "Visitando o Recife," are of the genre's highest level, being some of the most representative of the choro Pernambucano style (the style developed in Pernambuco that presents individualizing characteristics in relation to the Carioca choro).

The development of the choro genre in the Northeast was similar to the Carioca process, where several radio outings kept regionais (small accompanying ensembles). The difference is that in Rio the regionais were led by flutists or mandolinists, while in the Northeast they had violonistas (acoustic guitar players) as leaders; Canhoto da Paraíba was one of these.

In 1953, he signed with Rádio Tabajara in João Pessoa PB, staying there for five years. There, he organized his first regional. In 1958, he returned to Recife PE, and was hired by Rádio Jornal do Comércio, being featured in the show Quando os Violões se Encontram, in which Miro José (who introduced the seven-string violão in Pernambuco), Tozinho, Wilson Sandes, Ernani Reis, Romualdo, Ceça, Zé do Carmo, and others also used to perform.

In that period, he performed regularly with masters of choro, like mandolinist Rossini Ferreira, accordionist Sivuca, and mandolinist Luperce Miranda. In October 1959, together with João Dias, Dona Ceça, Zé do Carmo, and Rossini Ferreira, da Paraíba went to Rio de Janeiro being praised by such icons as Pixinguinha, Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim, and Paulinho da Viola, who paid homage to him with the choro "Abraçando o Chico Soares" (1971) and with the production of the LP Canhoto da Paraíba: Com Mais de Mil (or O Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso) (Marcus Pereira, 1977). In 1993, he recorded the CD Pisando em Brasa (Caju Music).

Alvaro Neder - extracted from All Music Guide

17 novembro 2008

Lusco Fusco - Lusco Fusco (2008)

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Lusco FuscoNascido da união dos músicos e amigos de longa data Luiz Gabriel Lopes e Emerson Fonseca, o duo Lusco Fusco surge em 2005 na cidade de Entre Rios de Minas, com a intenção de inovar a linguagem da música instrumental, somando influências de fronteira, pertencentes à zona de indistinção entre os gêneros. Como na ambigüidade presente no fenômeno natural que dá nome ao duo, em que noite e dia se confundem em luminosidade, a idéia é mesclar elementos que vão desde a tradição da viola caipira e a sonoridade rock´n´roll até a música erudita e o jazz.

Assim, o livre transitar por idéias e estilos é característica marcante do duo, em que o resultado sonoro buscado é sempre algo que vem implodir rótulos e limites para a música. De maneira fluente, quase que com a simplicidade dos tocadores de violão do interior, as músicas acontecem como numa conversa, trazendo histórias e sonoridades específicas a cada momento e cada tema. Como se pode perceber nos títulos, cada canção tem sua simbologia, seus porquês; traz consigo um punhado de memórias e causos que estiveram presentes no processo de composição e arranjo, em que personagens, lugares e sensações se fazem presentes. Há, inclusive, a preocupação em situar o espectador nesse universo, através de pequenas explicações e comentários antes das músicas.

Abrir janelas, deixar que os sons aconteçam no tempo, livremente: Lusco Fusco é uma caixa de imaginação sonora. Convivência e experimentação conjunta, intimidade, entrosamento e criatividade são características marcantes do duo, que faz a música soar de maneira fluida e luminosa.

Para mais informação, visite o MySpace do Lusco Fusco

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Lusco FuscoThe duo Lusco Fusco started in 2005, when friends Luiz Gabriel Lopes and Emerson Fonseca got together, in the city of Entre Rios in Minas Gerais, with the intention to innovate the instrumental music language. As in the ambiguity in the natural phenomenon that names the duo, where night and day get mixed in luminosity, the idea is to mix elements from the tradition of the viola caipira to rock, classical music and jazz, making the free transit between ideas and styles a strong characteristic on Lusco Fusco's music.

For more info, visit Lusco Fusco at MySpace

04 novembro 2008

Index - Index (1999)

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Jones JúniorUm álbum clássico certamente depende de bons músicos no aspecto técnico, isso o Index tem. Certamente depende de boas composições e arranjos, e isso o Index também tem. Mas isso somente não garante nada, afinal são inúmeros os álbuns com essas boas características. É preciso mais. É preciso algo mágico, que não se pode explicar com palavras, algo que simplesmente acontece e aqui aconteceu.

Ouvir o álbum homônimo da banda é uma viagem no sentido literal da palavra. Você vai voar, as atmosferas barrocas irão te conduzir a alguns lugares e paisagens do passado e você será encaminhado a lembranças e sensações das quais já havia se esquecido. Poucos são os discos capazes disso.

Os motivos estão em cada nota, no andamento perfeito e calculado, na perfeita interação de teclados analógicos conduzidos por Eliane Pisetta e as guitarras e violões de Jones Júnior. Algo de divino aconteceu aqui. Ser músico não é apenas tocar um instrumento, mas tocar com o instrumento.

Nesses tempos em que o progressivo parece ter se esquecido do valor de uma boa melodia, para valorizar experimentalismos sem sentido, valorizar uma técnica pasteurizada e fundir elementos à exaustão dos ouvintes para pura auto satisfação, para dizer que foi pioneiro.

Será pioneirismo copiar e re-copiar as figuras da recente vanguarda? Qual a diferença entre espelhar-se em movimentos de quinhentos ou de cinquenta anos? Certamente não produz nada de novo da mesma maneira. O importante é buscar referências com as quais se possa emocionar e emocionar os ouvintes, tão carentes dessas experiências. E isso o Index conseguiu já em seu disco de estréia e que, ao menos nesse quesito, dificilmente será superado.

Dizer que o Index é uma das melhores bandas da cena progressiva brasileira é chover no molhado. Difícil é tentar traduzir em palavras as intervenções dos teclados, das guitarras tristes, bem como da seção rítmica e harmônica e de toda a aura que envolve cada tema. Um álbum top do prog-rock Brasileiro.

Renato Glaessel - extraído do site Prog Brasil
Para mais informação, visite o site do Index

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IndexFirst album of Brazilian band Index being mainly a reincarnation of Quaterna Réquiem is a full instrumental one as mentioned already in their biography. The music on here is dominated by (female!) keyboard player Eliane Pisetta and blends perfectly elements of Camel and their previous band. But as well guitarist Jones Júnior, who he played on "Velha Gravura", Quaterna's first album is doing a great job here, especially in "Serenata" on acoustic guitar. Really hard to name any outstanding track, since the whole album is just fantastic. All compositions have perfect playing times between 7 and 10 minutes, are very versatile and intricate never becoming tedious at any moment. Just as an example "Ciclos das Marés" brings in a slight baroque touch by introducing a wonderful string arrangement followed by classical guitar before the full band sets in and Júnior plays a great solo on electric guitar. Despite some similarities (only in style) to mentioned band they created definitely their very own sound and I've to say I don't miss vocals at any part of the album. I listened to it already quite often and I find it with each repeated listen even more fascinating. Thus if you love instrumental music and you like to get value for money you should go to buy this one immediately.

Dieter Fischer - extracted from Prog Archives.com
For more info, visit Index's site
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